Infelizmente era emprestado pelo Boavista, pelo que nao foi possível mantê-lo.
Depois foi ver a sua carreira subir subir subir.. e chegar a clubes sempre de I Liga com muito bons desempenhos.
Falo de Rui Borges!!
Aqui vão as suas palavras para recordar o clube a a época 1996-1997.
P: A época começou com João Cavaleiro ao leme e a manutenção da equipa do ano anterior, na sua maioria. Apenas contrataram o Rui Borges, o Santos, o Paulo Gomes e o Rebelo. Sentiu um grupo forte quando chegou ao clube?
R: Sim, senti. Quando um clube mantém a equipa técnica e uma grande parte do plantel, da época anterior, significa que estes desempenharam um trabalho competente. Havia uma grande amizade, entre a grande maioria dos jogadores, e os poucos jogadores contratados integraram-se com muita facilidade.
P: A época anterior tinha sido de quase subida… quais era os objectivos que se assumiram no início?
R: Os objectivos passavam pela manutenção mas, devido à grande qualidade do plantel e à belíssima pré-época que fizemos, sentíamos que podíamos lutar de igual com qualquer equipa. Interiormente sentíamos que podíamos lutar pela subida.
P: Qual o jogador com quem ficou com mais recordações e que mantém contacto ainda hoje? E nesse ano, no balneário quem era o capitão? Quem era o mais activo e que punha a “malta a mexer” ? Como era o ambiente de 1 a 5?
R: Fiquei com boas recordações de grande parte dos jogadores, seria injusto individualizar. Mantenho contactos com vários jogadores, através do facebook O capitão era o João Luís. Os “animadores” eram o Marco Abreu e o Santos. Eram impressionantes, sempre bem-dispostos e sempre na brincadeira. O ambiente era nota 6.
P: Qual o melhor jogador daquele ano?
R: O melhor jogador era eu (risos)! Brincadeira. Gostava muito do Zezinho. Fez uma época fantástica, e como pessoa era extraordinário.
P: Que opinião tem do João Cavaleiro? O que mais marcou na sua liderança de balneário e como treinador?
R: O João Cavaleiro era um treinador que percebia facilmente o que um jogador sentia, o que precisava e sabia dar uma palavra na altura certa. O que mais me marcou na sua liderança foi a naturalidade dessa liderança. Não necessitava de gritar, nem ser um disciplinador. Era uma liderança natural e aceite naturalmente por todos.
P: O 1º jogo foi uma vitória, contra o Moreirense. O passe para o golo de Marco Abreu foi do próprio Rui Borges. Lembra-se do desenho desse golo?
R: Sim, lembro-me. Foi uma jogada pelo lado direito, recebi um passe do Rogério, driblei um jogador do Moreirense e cruzei atrasado para o marco que na passada bateu o guarda-redes.
P: à 6ª jornada, no jogo fora contra o Tirsense, o Rui ficou no banco… e curiosamente foi a 1ª derrota da equipa. A partir daí veio uma série com várias derrotas e empates. À 12ª jornada, só tínhamos 2 vitórias. Que sentimento se passaria no balneário nessa altura? A subida era uma miragem e começava-se a ver que o destino era a luta pela manutenção. Isso mexeu muito com o ânimo dos jogadores’?
R: Sim, foi uma derrota que mexeu muito com o grupo. O facto de ter ficado no banco e a derrota foi mera coincidência. Como disse anteriormente, tínhamos um plantel de qualidade. Provavelmente, criámos expectativas muito elevadas e não soubemos gerir o insucesso. Andámos algumas jornadas sem nos encontrarmos. Começámos a ter, também, os ordenados em atraso, e parece-me que este aspecto pesou mais do que a derrota.
P: À 20ª jornada, o Académico era último. A partir daí a equipa foi-se “levantando” e conseguiu alguns bons resultados. Qual foi o “click” que fez mudar os resultados? Um jogo decisivo foi contra o Desp. Beja, com reviravolta no Fontelo nos últimos 5 minutos ,e vitória por 2-1. Esse jogou marcou muito?
R: Sim, tal como a derrota no Tirsense nos desmoralizou, esta vitória em casa, fez-nos acreditar que podíamos dar a volta aos maus resultados se acreditássemos nas nossas qualidades e as puséssemos em prática. Foram cinco minutos de loucos!
P:À 27ª jornada, jogo contra o Estoril, em Lisboa. 0-1, golo de Rui Borges, 1ª vitória fora do Académico. Consegue descrever o golo? Foi o herói do jogo. O que sentiu?
R: Foi uma vitória extraordinária, a única fora de casa. E sendo eu o autor do golo e, da forma mais improvável, claro que me senti o herói do jogo. Foi um cruzamento da esquerda e eu no centro da grande área, sem marcação, cabeceei para o fundo da baliza. Ficou tudo atónito, o mais baixinho em campo tinha marcado de cabeça!
P: O que foi o principal mérito nessa época? O que recorda com mais saudade daquela equipa/plantel?
R: O principal mérito dessa época foi a enorme amizade que havia entre todos os jogadores e equipa técnica. O que recordo com mais saudade eram os lanches oferecidos por uma pastelaria, não me recordo do nome, sempre que ganhávamos. O dono da pastelaria oferecia umas bôlas de carne extraordinárias!
P: Desta época qual o melhor momento que guarda na memória? E o pior momento, consegue recordar?
R: O melhor momento que guardo na minha memória dessa época foi precisamente quando cheguei, a forma como fui recebido, tratado e ajudado na minha integração ao clube e à cidade. Foi, de facto, uma grande surpresa, só possível de acontecer por que os jogadores do clube eram e são, como homens, extraordinários.
O pior momento foi quando parti dois dedos de uma mão. Os médicos do clube engessaram-me a mão toda e foi um desconforto enorme durante um mês. Ainda por cima, a direita.
P: O Zé d’Angola foi o goleador de serviço. O que recorda como principal característica dele?
R: A principal característica do Zé d Angola era confiança que tinha nas suas capacidades. Tinha uma boa auto-estima aliada a uma boa técnica individual.
P: Do plantel desse ano, o Augusto ainda joga no Académico. Sérgio ainda joga e bem no Penalva Castelo. O Nuno Claro no Cluj. O Santos, o Lage e o Abadito ainda nas distritais de Viseu. Nota-se que os jogadores dessa altura ficaram com amor ao clube e continuam a marcar uma geração. A mística do Académico existia? De que maneira era sentida?
R: Claro que a mística existia! E era sentida e demonstrada precisamente pelos jogadores da terra. Era sentida e demonstrada em todos os treinos, em todos os jogos através de grande profissionalismo. Na assiduidade, na pontualidade, na entrega aos jogos e treinos. Inclusive, com ordenados em atraso, os jogadores nunca avançaram com acções contra o clube, nunca fizeram greves e havia jogadores com muito mercado. Infelizmente, quando acaba o “prazo de validade” os dirigentes esquecem-se…
P: Que conselho deixarias para que o clube volte à ribalta o mais cedo possível?
R: O conselho que deixo para que o clube volte à ribalta o mais cedo possível, entre outros, é de que, o futebol actual, visto na perspectiva de desporto/negócio, necessita de profissionais experientes como dirigentes que, envolvam os agentes económicos e políticos da região, e que façam perceber que o futebol profissional é um excelente veículo promocional de produtos, marcas e empresas. Que o futebol pode contribuir para colocar a região numa das mais importantes e dinâmicas indústrias dos nossos tempos.
Obrigado pela participação nesta entrevista. É muito bom ter o testemunho de jogadores que passaram com relevância e sucesso no Académico.
R: Eu é que agradeço a honra de contribuir para um espaço desportivo de grande qualidade e a oportunidade de recordar memórias fantásticas do meu percurso de jogador e, acima de tudo, do percurso como homem. Aproveito, também, para desejar as maiores felicidades ao blog e ao Académico, que tenham muitos sucessos. Um forte abraço para todos os meus ex-colegas e ex-treinadores, desejo-vos tudo de bom e agradeço-vos pelos belos momentos que passámos juntos.
Rui Borges